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MSParódias - Os músicos de Bremen/Os saltimbancos

  • Foto do escritor: Micaela Crispim
    Micaela Crispim
  • 16 de jul. de 2022
  • 7 min de leitura

Todo mundo sabe que os gibis da MSP estão cheios de referências a músicas, filmes, livros, seriados e histórias famosas na cultura popular. O post de hoje inaugura uma nova série, a MSParódias, onde eu analiso as obras originais e as histórias em quadrinhos que as parodiam. Para contextualizar aqueles que não conhecem ou se lembram, eu sempre irei iniciar dando uma breve introdução do material de base, e depois vou discorrer sobre as releituras. Espero que gostem!

Publicada em 1819 pelos irmãos Grimm na coletânea Contos de Grimm, a fábula recolhida da tradição popular intitulada Os músicos de Bremen conta a história de um jumento, um cachorro, um gato e um galo, que resolvem fugir de suas casas após seus patrões decidirem matá-los, pois já não são mais úteis para trabalhar. O plano da bicharada consiste em se juntar à banda da cidade de Bremen. Contudo, no meio do caminho eles encontram uma casa com fartura de comida e de ladrões. Os animais então se unem para espantar os bandidos com sua cantoria e tomam a casa para si. O conto termina sem que os protagonistas cheguem à cidade e realizem o seu sonho de se tornarem músicos. A história completa pode ser lida aqui.


Essa obra foi adaptada no Brasil em 1977 por Chico Buarque, no espetáculo denominado Os saltimbancos. No mesmo ano também foi lançado o álbum do musical, cujas músicas fazem sucesso até os dias de hoje. Nesta versão, os animais são apresentados em uma ordem diferente, sendo eles um jumento, um cão, uma galinha e uma gata.


Embora em ambas as versões haja uma clara crítica à exploração dos trabalhadores pelos seus patrões, Os músicos de Bremen e Os saltimbancos são frutos de suas respectivas épocas, de modo que cada um tece diferentes comentários sobre o período em que foram produzidos.


No conto dos irmãos Grimm, os animais representam os vassalos, que serviam aos senhores feudais, ilustrados pelos patrões. Esse sistema político, econômico e social era amplamente empregado na Europa medieval. A cidade de Bremen é colocada como um refúgio, pois lá o feudalismo não havia sido adotado.


Estátua dos músicos de Bremen na própria cidade de Bremen


Os saltimbancos foi criado em um cenário que não apenas carrega a soma de mais de um século de exploração pelas classes dominantes desde o momento em que Os músicos de Bremen foi publicado, mas que também sofre os efeitos de mais de uma década da ditadura militar brasileira, período marcado por forte censura e repressão, além de ações antidemocráticas. Havia momento mais adequado para o lançamento de uma peça que prega pelos ideais de união e liberdade dos menos favorecidos?


Os 4 músicos do bairro do Limoeiro

Publicada pela primeira vez na edição nº 157 do gibi da Mônica pela Globo, esta adaptação foi escrita por Emerson Abreu em 1999. Esta história possui uma versão animada, com diálogos bem fiéis aos da HQ.


Nela, Mônica é um burro que acaba destruindo as propriedades do seu patrão com sua força descontrolada. Irritado com o prejuízo causado pelo animal, o dono o expulsa de casa. Enfim livre, o burrico avista um cartaz anunciando um concurso de música no bairro do Limoeiro e decide participar. No caminho, Mônica encontra um cachorro, interpretado pelo Cebolinha, também sendo chutado de casa. Ele conta que seu dono o botou para fora pois na noite anterior ladrões roubaram vários pertences da casa, e o cãozinho, ao invés de impedi-los, ficou uivando para a lua. O pulguento diz que está juntando os sapatos que atiram nele para abrir uma loja de calçados. O burro então convida o cão para se juntar a ele no concurso de música.


Juntos, eles prosseguem até que encontram um gatinho, expulso de casa sob a acusação de ter comido toda a comida do lar. Claro que ele só podia ser a Magali. Em sua defesa, ele diz que comeu somente metade da comida, e que o resto realmente sumiu sem que fosse sua culpa. O cachorro pergunta se o bichano quer se juntar a eles para participar do concurso de música, ao que o gato responde que preferia entrar para as Ispaice-guéus (Spice girls), mas que eles devem dar pro gasto.


Em seguida, o leitor é pego de surpresa quando o roteiro foge da história original e o grupo de animais encontra o Chico como o espantalho sem cérebro de O mágico de Oz.

Depois dessa quebra de expectativa, finalmente encontramos o último integrante da banda: o galo, que inicialmente recusa o convite para se juntar ao grupo, alegando que não quer fazer parte do sistema capitalista e que prefere a vida no campo. Entretanto, logo em seguida ele diz que é brincadeirinha, e que na verdade almeja fama e fortuna.


A bicharada prossegue a sua viagem, mas a noite chega e eles decidem procurar abrigo em uma casa próxima à estrada. Ao baterem na porta oferecendo cantar para pagar pela sua estadia, os músicos são atendidos por ladrões, que não aceitam abrigá-los. Ofendidos com a grosseria dos bandidos, os bichos decidem entoar uma canção para convencer os criminosos a mudar de ideia. Em algumas versões do conto, os animais não percebem que a casa está tomada por larápios, e cantam com o intuito de agradá-los para conseguirem hospedagem.


Os ladrões fogem do seu esconderijo, tamanha é a desafinação dos cantores. Ao entrar na casa, o cachorro e o gato reconhecem os objetos e a comida que foram roubados de seus lares. Além disso, o jumento encontra o troféu do concurso de música. Os quatro decidem então devolver tudo o que foi roubado. De quebra, ainda ganham o concurso com o single "Espanta-ladrão". Esse sucesso alavancou a carreira da banda, que gravou vários discos, participou de comerciais e, é claro, estrelou inúmeros shows:

No primeiro quadrinho há uma referência ao icônico álbum Abbey Road dos Beatles, que acabou virando Rua das Abóboras. Já no segundo quadro, é feita uma alusão a um comercial da Parmalat, estrelado por crianças fantasiadas de animais. Por fim, Béquistriti Bóis é o jeito Emersoniano de dizer Backstreet boys, uma banda que fez muito sucesso na década de 90, assim como as Spice girls. Falando nelas, após a ruptura dOs 4 músicos do bairro do Limoeiro, o gato consegue realizar o seu sonho de se juntar às garotas apimentadas, sendo agenciado pelo burro. O cachorro e o galo também conseguem aquilo que queriam ao abrir uma loja de sapatos e casar com a galinha de ovos de ouro, respectivamente. E todos vivem felizes para sempre!


O que eu mais gosto dessa adaptação é como o Emerson conectou o motivo da expulsão do gato e do cachorro com os ladrões que surgem mais tarde na história, já que nas outras versões os animais são dispensados por estarem velhos e "imprestáveis". Outra coisa que sempre me faz rir são as tiradas cômicas, como o narrador introduzindo o Chico na história por distração.


Os músicos dos Bentos

Publicada em 2017 no gibi nº 31 do Chico Bento (2ª série - Panini), esta releitura foi roteirizada por Rogério Mascarenhas.


A história começa com uma vigarista chamada Ana e seu sobrinho Zé, que discutem o seu plano para enganar os moradores de Vila Abobrinha, sequestrar seus animais de estimação e cobrar um resgate para devolvê-los depois. Eles vão até o sítio dos Bentos, prontos para aplicar o seu golpe. Enquanto os criminosos estão sendo recebidos por Seu Tonico e Dona Cotinha, Chico e Zé Lelé chegam de uma pescaria, se queixando de terem pegado pouca coisa pois Fido ficou espantando os peixes.


Fido avista Ana, que está vestida com um ousado conjunto com estampa de oncinha. O cão pensa que uma onça de verdade está invadindo sua casa e começa a persegui-la. Em sua fuga desesperada, Ana acaba levando um coice de Teobaldo e cai em cima de Giselda, que também a ataca. Envergonhados, os pais do Chico se desculpam pelo comportamento dos bichos, e Ana afirma que eles precisam ser educados em sua escola de boas maneiras para animais. Ela diz que irá retornar no dia seguinte para buscá-los, caso a família concorde em deixá-los sob seus cuidados.


Assim que os golpistas partem, Chico afirma que seus bichos são muito educados e que não precisam ir para nenhuma escola de etiqueta animal. Porém, ele logo percebe que o gatinho Bigodes aproveitou a confusão para atacar a sua pescaria. O bichano é enxotado e se junta a Teobaldo, Fido e Giselda.

Os animais ouvem Chico dizer que vai ter que se livrar dos peixes estragados e pensam que o menino quer expulsá-los do sítio. Magoados, os quatro fogem de casa e caem na estrada. Só nesse momento o título da história é revelado, fazendo um trocadilho com o nome do conto dos irmãos Grimm.


Fiquei surpresa quando percebi que se tratava de uma paródia de Os músicos de Bremen, já que o início do roteiro é bem diferente das versões que estamos acostumados a ver. Aqui, tudo não passa de um mal-entendido, e os bichos, que vivem todos na mesma fazenda, não são abusados pelos seus donos. Nessa adaptação, perde-se a crítica à exploração sofrida pelos fracos e oprimidos. Inicialmente, pensei que essa mudança tivesse sido feita para evitar a abordagem de maus tratos aos animais, uma vez que os roteiros mais recentes da MSP não costumam retratar assuntos mais pesados (mesmo que o conto original seja voltado para o público infantil), mas depois percebi que o roteiro ainda mostra o sequestro dos mascotes. Assim, a alteração do começo da história talvez seja para surpreender o leitor. Confesso que gostei disso, e se por um lado a narrativa não fala sobre a tirania de pessoas em cargos de poder, ela chama a atenção para o sequestro e aprisionamento de animais.


Continuando a história, começa a escurecer e Teobaldo, Fido, Bigodes e Giselda temem encontrar predadores ou assombrações pelo caminho. Para seu alívio, eles encontram uma casa que pode servir de abrigo durante a noite. Mas, ao se aproximarem do lugar, descobrem que ali na verdade é o covil dos golpistas Ana e Zé, que mantêm os animais da região em cativeiro. Indignados, os quatro começam a zurrar, latir, miar e cacarejar, apavorando os vigaristas, que fogem da casa e são prontamente presos por um policial que havia sido chamado pelo Chico.

Chico reencontra seus bichinhos e diz que ele, Seu Tonico e Dona Cotinha estavam morrendo de saudades deles. Os animais se dão conta do mal-entendido e retornam alegremente para casa. O restante dos mascotes é devolvido aos seus legítimos donos e tudo volta ao normal. Ou melhor, quase tudo: a bicharada do Chico decide investir no seu talento musical e fica ensaiando o seu coro diariamente, para a infelicidade do caipira.

Cada história traz uma releitura distinta de um renomado conto secular, incorporando com sucesso elementos próprios da Turma da Mônica e do Chico Bento. O resultado são dois roteiros únicos, que só podem ser apreciados em sua totalidade quando o leitor está inserido na cultura brasileira e conhece previamente o material de referência. Ambas as adaptações são excelentes e muito divertidas.


Você sabe de mais alguma história da MSP que parodie Os músicos de Bremen ou Os saltimbancos? Se sim, me conta nos comentários para que eu possa analisá-la também!

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