Mônica e Cascão, uma dupla dinâmica
- Micaela Crispim
- 11 de dez. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 12 de dez. de 2021
No último post, falei sobre a relação entre a Magali e o Cebolinha. Por isso, volto hoje para analisar a dinâmica da Mônica com o Cascão. Eles formam um par mais tranquilo e bondoso, mas que também troca suas farpas.

Turma clássica
Antes de mais nada, um fato curioso: no post sobre o Cebolinha e a Magali eu comentei que muitas pessoas afirmam que os dois possuem raras interações. No entanto, buscando na Gibiteca encontrei 39 histórias protagonizadas pelos dois, sendo que 12 eram tirinhas. Já Mônica e Cascão estrelam juntos em 43, e somente seis delas são tiras. É claro que nessa pesquisa não pude achar todos os roteiros focados nessas duplas, mas é interessante que Cebolinha e Magali quase empatam com Cascão e Mônica no quesito número de histórias juntos.
Para entender melhor a dinâmica da Mônica com o Cascão, é necessário diferenciá-los dos outros dois personagens principais. Como eu disse na última publicação, Cebolinha e Magali têm objetivos bem claros: ele pretende derrotar a Mônica/roubar o Sansão/ser o dono da rua, enquanto ela quer apenas comer. Assim, uma característica que ambos têm em comum é a ganância.
Cascão e Mônica, por sua vez, não são definidos pelas suas ambições: ele tem medo de água e ela é uma menina forte. Suas características principais não os levam em busca de nada. Pelo contrário, é o conflito que vai ao seu encontro, seja na forma de um banho indesejado ou de alguém que quer derrotar a Mônica/roubar o Sansão/ser o dono da rua. Em comparação com o Cebolinha e a Magali, que ao meu ver têm uma relação muito mais conturbada, Mônica e Cascão costumam ser mais pacatos, e as histórias dos dois juntos geralmente são menos caóticas. Isso acontece porque eles não são movidos por vontades fortes como seus amigos.
Mais que amigos, friends!

Se Magali e Cebolinha são mais manipuladores, egoístas e malandros, Cascão e Mônica são mais inocentes, tranquilos e... como posso dizer? bobinhos. Não são raras as histórias em que eles dividem o mesmo neurônio, o que é muito engraçado. Só para citar alguns exemplos: À deriva, A maravilhosa fábrica de automóveis, O dia em que o Cascão fugiu de casa... de novo!, O sobrado assombrado do senhor Samir!, Moscas, pra que te quero! e Sustos e esbarrões.

Com o seu jeito mais meigo, a dupla também protagoniza vários roteiros fofos, como Acalmando a fera, Eu tenho a força, Calma, Mônica! e Sem vontade para nada...
No final das contas eles só querem ter um pouco de sossego. Em algumas histórias os dois se unem contra o Cebolinha, que sempre causa dor de cabeça com os seus planos infalíveis. É o caso de Brincadeiras modernas e Brincando de bonecas.
Nem tudo são flores

Apesar de não ser tão frequente, há sim atrito entre essa dupla. No famigerado "antigo testamento" (histórias publicadas nos jornais e pela editora Abril), a dona da rua não precisava de justificativa plausível para descer o sarrafo em qualquer um, e o Cascão (entre outros) apanhava sem ter feito nenhuma provocação. Um exemplo é a história A estátua. Nela, Mônica ordena que Cascão fique imóvel na brincadeira chamada de "homem de barro" (também conhecida como "estátua" ou "como está fica"). O problema é que ela ameaça arrebentar o pobre coitado caso ele se mexa e depois o abandona paralisado no meio da rua. Esse roteiro é bem absurdo, como é de se esperar dos anos 70.
O pavio curto da Mônica também era muito presente na primeira série de TMJ, e o Cascão é surrado de graça na edição 19 (Surge uma estrela - Parte 2), por exemplo.


A Mônica passou a ser mais controlada a partir da fase Globo e continua assim até hoje, o que não significa que o Cascão se livrou das coelhadas. Afinal, ele a azucrina com frequência, chegando a fazer planos por conta própria de vez em quando. Exemplos: Sóóó no ano que vem..., Eu lavo a minha mão! e Se a Mônica fosse fraquinha. No entanto, existe um fator importantíssimo a ser considerado nessa relação: a presença do Cebolinha. É notável que o Cascão se deixa levar pelas ideias do amigo e dificilmente procura importunar a Mônica quando está sozinho.

Atualmente, quando o Cebolinha não está em cena o conflito entre Cascão e Mônica costuma acontecer por motivos aleatórios. Ela pode estar incomodada com o cheiro ou com a inconveniência dele, por exemplo. São situações que poderiam ocorrer com qualquer personagem secundário, mas que são especiais por aprofundar a relação entre esses dois protagonistas.
Entre tapas e beijos
De vez em quando rola um clima entre Mônica e Cascão! O ship conhecido como Moscão ou Cascônica pode parecer aleatório, mas surge em várias histórias. Em Os namorados, temos um beijo entre os dois, resultado de uma fofoca mal contada da Denise. Na ocasião, Cascão pretendia causar ciúmes na Cascuda.

Outro momento romântico causado por puro interesse surge em Faça seu seguro, quando Cascão decide galantear a Mônica apenas para se livrar das coelhadas. Em O poder do amor, Cebolinha convence o amigo a conquistar a Mônica para controlá-la. Ela não se deixa levar pelas cantadas do sujinho, que termina a história com o coração partido pela rejeição. No roteiro Alguém da turma, Mônica se apaixona pelo Cascão. Já em Banho quente em dia frio, o contrário acontece. Mônica, a famosa traz não apenas um beijo do casal, mas termina com a Moniquinha caindo de amores pelo Cascão.

Na turma jovem, Cascão se apaixona pela Mônica (Presente de Grego - TMJ nº 03, 2ª série) depois de ser atingido pela flecha do Cupido (não é uma metáfora, é literalmente isso que acontece). Como é de se imaginar, esse amor não correspondido dura apenas uma edição.

Turma da Mônica Jovem

Diferentemente do que aconteceu com o Cebolinha e a Magali, a dinâmica entre Cascão e Mônica não mudou muito na turma jovem. Como eu mostrei anteriormente, eles tiveram momentos de ódio e de paixão, mas normalmente são bons amigos. A primeira edição que mostra isso é Conta comigo! (TMJ nº 10 - 1ª série). O roteiro foca em como a Mônica sempre ajuda a turma, e com o Cascão não podia ser diferente. Ele pede que ela grave um vídeo dele fazendo algumas manobras de parkour para postar no YouTubo. Os dois trocam várias tiradas ao longo da história, mas no final sempre estão ali um para o outro.

Outra edição que merece destaque é Ser ou não ser? - Parte 2 (TMJ nº 12 - 1ª série), em que a Mônica ajuda o Cascão a treinar para a final de um campeonato de futebol. Eu preferia que fosse a Cascuda no lugar da Mônica? Sim, mas não dá para ter tudo na vida, né? O que importa é que a Mônica prova ser uma boa amiga de novo ao se preocupar com o desempenho do Cascão e aconselhar ele.
Ainda descobrimos que os dois têm um interesse em comum, quem diria! Ambos são fãs de Cosmoguerreiro e do ator Leonardo Nemoi (referência ao Leonard Nimoy, ator do Sr. Spock). É uma pena que esse gosto compartilhado nunca mais foi mencionado, mas ainda é bem legal!

Para finalizar, na primeira parte de A torre inversa (TMJ nº 90 - 1ª série), testemunhamos a volta do lado mais pastelão da dupla. São interações breves, mas que arrancam o riso do leitor e fazem lembrar da turma clássica.
Esses foram só alguns exemplos, mas o relacionamento deles está presente em várias edições da turma jovem, em maior ou menor grau.
Acho que há um consenso entre os fãs que Mônica e Cascão têm uma boa amizade (tirando aqueles que enxergam uma química entre os dois). A maioria das interações deles são leves, e eu particularmente amo os roteiros fofos e/ou cômicos. Aliás, queria ler mais histórias que destacassem essa dupla dinâmica!

Se um dia eles erraram foi tentando acertar, juro.
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