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Por que a turma raramente vai à escola?

  • Foto do escritor: Micaela Crispim
    Micaela Crispim
  • 15 de dez. de 2021
  • 5 min de leitura

Taí uma pergunta intrigante. Encontrar uma história da Turma da Mônica que se passe na escola é algo inusitado. A grande maioria dos roteiros acontece ao ar livre, e eu lembro que morria de inveja disso quando era criança. Meu sonho era poder brincar o dia inteiro na rua, mas era muito perigoso. O jeito era ler os gibis e imaginar como devia ser essa liberdade... (olha o drama haha)


Bom, mas o foco desse post é falar sobre a turminha, e não sobre mim. Afinal, são eles que quase nunca vão à escola. Só para ter uma ideia, em uma pesquisa feita no grupo Gibiteca encontrei só 16 histórias em que isso acontece! Embora eu não tenha achado todas, são pouquíssimas. Como pode isso? Será que todas as histórias se passam durante as férias, como se fosse Phineas e Ferb? Se for esse o caso, são 60 anos de férias, que passam depressa...


De um ponto de vista racional, não faz sentido que crianças com condição de estudar não estejam na escola, e nem precisa fazer quando se trata de uma história em quadrinhos. Quando lemos os gibis, entendemos que a lógica que usamos no nosso cotidiano nem sempre se aplica àquele universo. Isso é chamado de suspensão de descrença. É por isso que à primeira vista não nos preocupamos com a violência urbana no bairro do Limoeiro e aceitamos que as crianças brincam nas ruas o dia todo sem nenhum perigo (isso se a gente ignorar os ataques constantes de vilões). Como eu mencionei anteriormente, a violência é um problema da vida real que me impedia de brincar na rua, mas não é nesse universo fictício.


Pensando assim fica fácil explicar porque a turminha frequenta a escola nas graphics, como em Laços, Pele e Recuperação. Nesses casos, o roteiro é bem mais elaborado e construído de um jeito mais realista. Logo, as crianças vão para a escola como é esperado.


Alguns podem sugerir que Mônica e seus amigos ainda não têm idade suficiente para estudar. Nas historinhas a idade dos protagonistas varia entre seis e sete anos. De acordo com uma pesquisa rápida que eu fiz, crianças que completam seis anos até 31 de março podem ser matriculadas no 1º ano do Ensino Fundamental. Isso qualificaria pelo menos a Mônica, já que ela faz aniversário em 21/03. Sem contar que o Chico, que tem a mesma idade que a turma, sempre vai à escola.

Trecho da história De sapato?! (Cebolinha nº 83 - Globo)


Do ponto de vista de construção de uma história, o fato da turminha raramente ir à escola limita os cenários e interações a serem explorados. O Chico, por exemplo, tem toda uma gama de histórias que envolvem os estudos. São roteiros em que ele prefere brincar a estudar, tem preguiça de acordar cedo para ir para a aula, tira notas baixas e por aí vai. Essas são situações que a maioria das crianças já viveu pelo menos uma vez e que fazem com que elas se identifiquem. Até mesmo o leitor que já passou dessa fase lembra que fazia as mesmas coisas no seu tempo de escola.


Na turma do Chico ainda há uma personagem criada justamente para o núcleo escolar: a professora Marocas, parte essencial das histórias. Há alguns anos a turma da Mônica ganhou sua própria professora, embora ela seja pouco conhecida. Mesmo possuindo um design definido e tendo aparecido em capas de revistas, nem os roteiristas estão totalmente familiarizados com ela, já que seu nome não é fixo.

Talvez o nome dela seja Iracema Sheila, né? Ou Sheila Iracema...


Ainda que a professora Iracema/Sheila não seja a personagem mais marcante de todas, ela tem um papel fundamental em roteiros educativos. É o caso de Amiguinhos da vida, Cada passo importa, Viva as diferenças! e Inclusão social. Nessas historinhas ela ensina os seus alunos sobre deficiências, preconceitos e respeito. O cenário escolar é bastante presente quando os temas discutidos são inclusão e diversidade, o que faz sentido pois são assuntos que as crianças não costumam discutir entre si e que devem ser explicados de um modo mais formal para o leitor. Portanto, utilizar um adulto em posição de autoridade para ensinar aos pequenos é uma boa escolha narrativa, e quem melhor que uma professora para isso?


Assim como as historinhas que exploram a relação de irmãos, as que acontecem na escola possuem um ótimo potencial e um terreno fértil, mas infelizmente são pouco exploradas. Ah, e já que eu tracei um paralelo com a turma do Chico, é importante dizer que a Turma da Mônica clássica não é a única que sofre com essa "problemática". Na sua versão jovem acontece a mesma coisa. O curioso é que inicialmente a TMJ foi proposta para os leitores que estavam mais crescidos e não se identificavam tanto com os gibis da turminha. Porém, a maior parte das aventuras não retratava exatamente o cotidiano de um adolescente comum (eu pelo menos nunca viajei para Marte ou conheci dimensões mágicas aos 15 anos). Ainda assim, admito que mesmo tendo diversos elementos de fantasia, os roteiros da turma jovem costumam lembrar ora ou outra que os personagens frequentam o ensino médio.

Como eu já disse em algum outro post, sou fã dos roteiros mais pé no chão de TMJ, provavelmente porque eles são mais parecidos com a minha realidade. Aliás, O príncipe perfeito; Divisão por dois; Cascão, o mestre do vulcão e Os opostos se atraem (edições 09, 31, 41 e 60 da 1ª série, respectivamente) são a prova viva de que é possível fazer um roteiro ótimo dentro do contexto escolar! Mas, como dá para notar, histórias desse tipo são raras.


Quando o Chico Bento Moço foi lançado, a Turma da Mônica Jovem já estava circulando nas bancas há quase cinco anos, mas não tinha abordado tantos assuntos sérios ligados à adolescência como se esperava. CBM chegava para ser uma versão um pouco mais madura, tocando em temas que a princípio pensávamos que iam ser vistos em TMJ. Por isso o Chico estava se mudando da Vila Abobrinha para a cidade grande, onde ia estudar agronomia. Ele até ganhou um núcleo de personagens da universidade, incluindo colegas de curso e professores. Legal, né? Pena que depois de um certo tempo o caipira passou a ficar cada vez mais tempo em aventuras fantásticas, sendo que o charme da sua revista era justamente o ambiente universitário. (Pretendo falar mais sobre isso no futuro!)


Se TMJ, CBM e a turma clássica esquecem que seus personagens são estudantes, que dirá a turma da Tina. Por muito tempo os leitores não sabiam ao certo a faixa etária dos protagonistas. Em algumas histórias eles estavam estudando para o vestibular, em outras tinham acabado de passar na faculdade, mas a maioria nem tocava nesse assunto. Só na década de 90 foi revelado que a Tina estuda jornalismo, mas até hoje essa questão ainda é confusa e algumas pessoas pensam que ela tem cerca de 18 anos e está fazendo cursinho. As versões mais recentes da personagem deram mais ênfase no fato de que Tina é uma estudante universitária, mas raramente mostraram seu cotidiano como tal.


Voltando à pergunta do título desse post, não há como saber o motivo exato de termos tão poucos roteiros da turma na escola. Talvez seja para dar um toque de fantasia a mais para o bairro do Limoeiro, para não ficar muito parecido com a Vila Abobrinha ou porque dá muito trabalho desenhar as carteiras e uniformes dos alunos. Considerando que as outras turmas também não focam muito nos estudos, talvez os roteiristas da MSP em geral achem que o contexto escolar é entediante e não permite criar narrativas interessantes. Quem sabe? É mais um dos mistérios da MSP...

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