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MSParódias - Maria Chiquinha

  • Foto do escritor: Micaela Crispim
    Micaela Crispim
  • 18 de jul. de 2022
  • 4 min de leitura

Originalmente lançada em 1961 e cantada por Sônia Mamede e Evaldo Gouveia, a música Maria Chiquinha se popularizou em 1989 ao ser interpretada pela dupla de irmãos Sandy & Junior. Muitos devem estar familiarizados com a letra dessa canção, mas para aqueles que não se lembram ou não conhecem, aqui está:


Que c'ocê foi fazer no mato, Maria Chiquinha? Que c'ocê foi fazer no mato?


Eu precisava cortar lenha, Genaro, meu bem Eu precisava cortar lenha


Quem é que tava lá com você, Maria Chiquinha? Quem é que tava lá com você?


Era filha de Sá Dona, Genaro, meu bem Era filha de Sá Dona


Eu nunca vi mulher de culote, Maria Chiquinha Eu nunca vi mulher de culote


Era a saia dela amarrada nas perna, Genaro, meu bem Era a saia dela amarrada nas perna


Eu nunca vi mulher de bigode, Maria Chiquinha Eu nunca vi mulher de bigode


Ela tava comendo jamelão, Genaro, meu bem Ela tava comendo jamelão


No mês de setembro não dá jamelão, Maria Chiquinha No mês de setembro não dá jamelão


Foi uns que deu fora do tempo, Genaro, meu bem Foi uns que deu fora do tempo


Então vai buscar uns que eu quero ver, Maria Chiquinha Então vai buscar uns que eu quero ver


Os passarinhos comeram tudo, Genaro, meu bem Os passarinhos comeram tudo


Então eu vou te cortar a cabeça, Maria Chiquinha Então eu vou te cortar a cabeça


Que c'ocê vai fazer com o resto, Genaro, meu bem? Que c'ocê vai fazer com o resto?


O resto? Pode deixar que eu aproveito


A música retrata a discussão entre um casal — Genaro desconfia que estava sendo traído por Maria Chiquinha com outro homem no mato. Por mais que tente se explicar, a mulher não consegue convencer o parceiro de que não foi infiel, de modo que ele ameaça cortar sua cabeça. Embora não fique explícito como exatamente Genaro irá aproveitar o cadáver de Maria Chiquinha, a entonação dada pelos cantores sugere que se trata de necrofilia.


Uma canção super tranquila, não? Ainda mais lembrando que Sandy e Junior tinham apenas 6 e 5 anos quando a cantaram pela primeira vez (e continuaram cantando inúmeras vezes durante a sua infância). Durante muitos anos os crimes de feminicídio e necrofilia retratados na letra foram vistos como algo normal, mas de uns tempos pra cá as pessoas finalmente começaram a ver o quão problemática essa música é. Tanto que em 2018 Junior comentou sobre a bizarrice de Maria Chiquinha em um vídeo do canal Pipocando Música.


No ano seguinte, durante a turnê Nossa História, Sandy e Junior tiveram que fazer uma pausa no show devido a um problema técnico de som. Os fãs aproveitaram o momento de silêncio para puxar um coro de Maria Chiquinha. Os irmãos até entraram no embalo, mas no final Junior novamente destacou que os versos são inaceitáveis e propôs uma mudança na história:

"Com o resto? Para com isso. Isso já não é mais aceitável, não são mais os anos 90. Não vou fazer nada com o resto, deixa em paz a Maria Chiquinha. A Maria Chiquinha faz o que ela quiser no mato. Não é muito melhor?"

Como naquela canção...

Essa história foi publicada na edição nº 177 do gibi do Chico Bento pela editora Globo em 1993. Não é possível saber quem é o roteirista, pois a MSP não creditava seus artistas naquela época.


O roteiro se inicia com Chico caminhando tranquilamente, até que avista algo em um matagal que o desagrada. Para efeitos de mistério, o leitor não consegue ver o que deixou Chico nervoso, apenas Rosinha saindo do meio do mato com as bochechas coradas. Ele então indaga à namorada "O qui ocê foi fazê no mato, Dona Rosinha? O qui ocê foi fazê no mato?". A repetição dos versos deixa claro que se trata de uma paródia de Maria Chiquinha, que aqui foi substituída por "Dona Rosinha", conservando a métrica da obra original.



O diálogo dos dois se segue de maneira similar aos versos originais, com exceção de algumas alterações que não mudam o sentido da discussão, como a substituição de "cortar" por "catar" e "ela tava comendo jamelão" por "ela tava lambuzada de chupar manga". Além disso, o roteirista incluiu algumas falas curtas entre as frases repetidas ("sei!", "na cidade ocê vê di monte!"), deixando a conversa mais natural.


Na música, depois de ser interrogada sobre o jamelão, Maria Chiquinha é ameaçada de morte. Já na historinha do Chico, o roteirista muito sabiamente decidiu dar outro rumo à narrativa. Aqui, Rosinha é acusada de ter beijado a filha da Nhá Genoveva, a Doroteia. A garota se defende dizendo que só estava soprando um cisco dos olhos da amiga. Chico não acredita nela, convicto de que estava sendo traído. Os dois brigam e juram nunca mais falar um com o outro, afinal essa é uma história do Chico, e não pode faltar ciúmes e discussões infundadas.


Note que mesmo tendo diálogos diferentes dos da canção, Chico e Rosinha continuam falando a mesma frase mais de uma vez e chamando um ao outro de "Dona Rosinha" e "Chiquinho, meu bem", mantendo a lírica usada desde o começo da história.



Para sua surpresa, Chico descobre que Rosinha estava falando a verdade quando Doroteia sai do mato carregando a lenha, com a saia amarrada nas pernas e o bigode sujo de manga. Além disso, a menina pede que ele assopre um cisco do seu olho, afirmando que é a segunda vez naquele dia que isso acontece.


Arrependido, Chico corre para pedir desculpas para Rosinha, e a história termina com ele fazendo uma serenata na janela da namorada, entoando Pé de manacá, canção de Isaura Garcia e Hervê Cordovil lançada em 1950.



Obviamente, quem não conhece a letra acaba lendo a história como apenas mais uma discussão boba entre Chico e Rosinha. Contudo, a paródia de Maria Chiquinha surpreende o leitor que reconhece a música, dando um final bem mais apropriado para a briga do casal.

E aí, gostou da análise dessa releitura? Fique sabendo que tem mais! Que tal ver outras MSParódias?

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